A produçom de leite na Galiza a partir de 2015: documento de análise

     Este documento é resultado da jornada celebrada o passado 10 de julho

Compostela, 5 de agosto de 2014.– Este é o documento completo com o que a FRUGA analisa a situaçom criada no sector leiteiro a partir do vindeiro ano com a desapariçom das quotas o leite e a liberalizaçom do sector.

JORNADA DE TRABALHO DE 10 DE JULHO DE 2014:
PERSPETIVAS E TENDÊNCIAS DO SETOR LEITEIRO GALEGO NUM HORIZONTE SEM QUOTAS.

A jornada esteve dividida em três grandes áreas temáticas.

A primeira delas teve como motivo central reflexionar a respeito da possível evolução do mercado dos insumos e como estes influem nos custes de produção das nossas granjas leiteiras. Este apartado esteve dinamizado pelo companheiro Edelmiro López.

A respeito deste tema todas as pessoas presentes coincidiram em que a maioria das granjas galega de leite são altamente dependentes da compra de insumos de fora, sendo o mais importante a compra de alimentação para o gado (rações), o que as faz muito dependentes das flutuações do mercado das matérias primas e sobre o que não se tem controlo.

Outra das características do nosso setor produtor é a elevada concentração, destacando que das pouco mais de 9.000 granjas que temos nestes momentos, 4.500 produzem aproximadamente 2 milhões de toneladas, com uma média aproximada de 500 mil quilos por granja e que estas se encontram situadas em uns 70 concelhos. A produção de leite concentra-se em umas 200 mil hectares com 350 mil vacas e umas 100 mil novilhas.  Isto quer dizer que aproximadamente o 50% das granjas produzem o 80% de todo o leite que se produze na Galiza.

Para tentar mudar esta situação detectam-se alguns pontos fracos que se teriam de superar, começando pelo fator terra, fator sobre o que a atual Junta da Galiza deixou de trabalhar, mantendo o instrumento do Banco de Terras em hibernação. Ligado também com o abandono das suas responsabilidades, por parte da administração galega, está a grave situação na que se encontra a investigação e a divulgação agrária, como fatores que teriam de ajudar na procura de alternativas produtivas que permitiram às nossas granjas reduzir o seu nível de dependência do exterior.

Como propostas alternativas pelas que podemos caminhar figuram a possibilidade de utilizar terras na Galiza para a produção de forragens para fornecer às nossas granjas, primar a eficácia e a eficiência perante a produtividade, favorecer a dês-intensificação aproveitando o novo PDR galego e as agro-ambientais. Mas a conclusão a respeito de todos estes pontos é que a política agrária da Junta da Galiza caminha por vias opostas a estas propostas.

Ficaram algumas perguntas em riba da mesa para reflexionar a respeito do futuro do setor produtor leiteiro galego, tais como: Temos de seguir intensificando? , Deve-se seguir acrescentando a produção? , Galiza teria de diminuir o número de granjas? , e tudo isto ligado com outra questão que cada vez se apresenta como um futuro não muito remoto, qual é a possibilidade que um número elevado das nossas granjas acabem atrapadas num modelo de produção que nós denominamos como integração vertical, onde a pessoa titular da granja se limite exclusivamente a mungir as vacas e passe a ser, ainda mais, um elo na cadeia de produção.

A segunda área de trabalho tinha a ver com a evolução do mercado do leite e derivados lácteos. Encarregou-se de coordenar este tema o companheiro António Oca.

O primeiro do que se falou foi das perspectivas que se intuem a respeito da evolução das entregas de leite para a campanha 2014-15, última campanha com quotas. A respeito deste assunto a reflexão que se fez partia de que as previsões, inicialmente, não são muito alarmistas, porque por um lado está-se a falar que no Estado espanhol se pode com a matéria graxa, de tal maneira que a quota do Estado se pode chegar a acrescentar num 1% (65.000 toneladas) e os cálculos mais pessimistas falam de os excedentes no Estado, a final de campanha, podem rondar as 100 mil tonelada, ficando compensadas estas pelas 65 mil e só restando por compensar ao redor de 35 mil. Por outro lado, tendo de conta que os Estados da UE com mais peso no setor, tais como a França ou a Alemanha, também estão a acrescentar a sua produção é previsível que no seio da UE se busquem mecanismos compensatórios para evitar o pagamento de super-taxa.

Mas tudo isto contrasta com o ambiente de nervosismo que se vive no setor, no que os alugueres de quota já rondam os 6 cêntimos de euro por quilo de quota, quando somente levamos três meses desde o início desta campanha. Ambiente propiciado pelas últimas declarações da própria conselheira, Rosa Quintana, e que está sendo aproveitado pelos especuladores de turno.

Entrando já em matéria em torno ao futuro de uma produção de leite sem quotas na UE, de continuar a tendência de acrescentar a produção nos países mais produtores, não se descarta que a meio prazo  se produza uma forte crise de preços.

Existem dados que indicam que este cenário não é descartável, porque por um lado estima-se que o mercado europeu está saturado e por outro temos aos grandes grupos leiteiros europeus fazendo grandes investimentos. Prevê-se um acrescentamento da demanda de produtos lácteos (produtos industriais) a nível mundial, principalmente a China e a Índia.

O que está claro é que o setor leiteiro galego depende grandemente do mercado espanhol e fundamentalmente da venda de leite líquido (tetra brik), mas também destaca outra dependência a respeito do setor transformador, tendo de conta que a maior parte do nosso leite é transformado e comercializado por empresas de fora da Galiza e mesmo de fora do Estado espanhol (Peña Santa e Lactalis).

Perante deste panorama a questão é: Que fazer? .Três são as grandes questões a resolver e segundo como sejam ressoltas o futuro do setor estará mais ou menos claro.

Que tipos de produtos produzir, seria a primeira questão a resolver; a segunda tem a ver com o destino desses produtos e por último que indústria temos para dar resposta as duas anteriores.

Ao defrontar o primeiro e o segundo assunto, porque estão intimamente ligados, fica claro que antes de nada temos de consolidar o nosso mercado natural de leite liquido (o do Estado espanhol), Galiza junto com Astúrias e o norte de Portugal produzimos aproximadamente 4 milhões e meio de toneladas (2,5 Galiza, 1,5 o norte de Portugal e 0,5 Astúrias), essa produção dá para abastecer a 22 milhões de pessoas. Outra linha que se teria de explorar é a dos queixos a partir das nossas DO potenciando a diversificação e a qualidade, e por último ter-se-ia de trabalhar o leite em pó e a manteiga, neste sentido considera-se um investimento com futuro o datarmonos com uma torre de leite em pó.

No diz respeito dos grupos industriais constata-se que na Galiza só temos dous grupos, um de carater cooperativo: FEIRACO, e outro de caráter privado: o grupo de LACTEOS LENCE, e entre os dous não transformam mais do 20% da nossa produção. Valora-se como uma experiência traumática para a autoestima do setor o que aconteceu com ALIMENTOS LÁCTEOS, na medida que este fracasso vem a redundar em outros do mesmo estilo, de base cooperativa, o que deixa muito tocada a confiança do próprio setor para encarar novos intentos de explorar a constituição do tam demandado como necessitado Grupo Lácteo Galego. Perante deste panorama o setor produtor fica muito dependente das decisões que vaiam adotar grupos foraneos como LACTALIS ou PEÑA SANTA.

Já por último o terceiro campo de trabalho, o relacionado com o futuro e as alternativas, do que se encarregou o companheiro Xoan Pouliken, cabe destacar as seguintes mensagens:

Há diversas alternativas, tantos como modelos produtivos. Não há fórmulas mágicas, mas fica claro que a alternativa não está em assumir modelos importado (alfalfa-concentrados).
Fala-se de que há alternativas individuais dentro dum projeto global. Projeto global que deve girar em fazer menos dependentes as nossa granjas, tendo bem presente que os problemas meio ambientais também acrescentam os custes.
Relacionado com o anterior faz-se a seguinte recomendação; que a volatilidade dos mercados não se deve transformar numa volatilidade à hora de adotar decisões.
E por último reivindicar a Galiza como potência produtora de leite, porque temos condições climáticas e os profissionais necessários para o ser, pese a que a política agrária da Junta da Galiza se esforça em destruir o setor agrário galego. Mas sendo uma potência produtora faltanos o poder de decisão que cada vez está mais afastado da Galiza e com uma administração galega que atua na nossa contra.